A Árvore
A Árvore é uma instalação itinerante de arte participativa formada por folhas de papel pintadas individualmente por crianças do mundo inteiro. O projeto foi idealizado por Roth em 1990, durante uma atividade desenvolvida na Escola da ONU (Nova York, EUA), e nos anos subsequentes viajou por diferentes países, como EUA, Dinamarca, Alemanha, Israel e Brasil.
Roth buscou celebrar a paz e integrar pessoas de todo o mundo nesse projeto por um futuro comum. Na concepção original, A Árvore deveria chegar a 1 milhão de folhas até 2000, quando seria projetada sobre a fachada do edifício-sede da ONU, em Nova York, em uma mensagem de paz e harmonia entre os povos. Devido à morte prematura do artista, em 1993, a obra não foi finalizada nessa época. Ainda assim, durante os três anos em que esteve à frente do projeto, Roth trabalhou diretamente com 65 mil crianças de 70 países diferentes, produzindo uma instalação bidimensional de quase 400 metros quadrados.
A curadoria do Acervo Otávio Roth relançou A Árvore quase 25 anos após sua interrupção, promovendo o projeto como uma obra que materializa o processo contínuo de promoção da cultura de paz, através da sensibilização de crianças de diferentes origens e – como em 2020 A Árvore completará 30 anos – de diferentes gerações. Sob esse novo olhar, entende-se que a força da obra reside justamente em seu constante crescimento, sem prazo para ser finalizada nem limite para o número de participantes. Através de uma ampla rede de parceiros e apoiadores, o projeto pretende seguir mobilizando crianças de todas as idades, ao longo de gerações, contribuindo para o entendimento da arte como um espaço de trocas e livre expressão de todos. Sob seu guarda-chuva, oficinas com enfoque no ensino de direitos humanos e discussões relativas à sustentabilidade socioambiental ganham contornos leves e delicados, convidando à reflexão de maneira responsável porém positiva e não traumática.
Além das gigantescas dimensões da instalação e do grande número de participantes, A Árvore é a base para o desenvolvimento de uma série de discussões. Ela fala da arte como ponto de encontro de crianças de todo o mundo e se apresenta como espaço de relativização das diferenças. Ao mesmo tempo, transmite a todos o sentimento de pertencimento a uma mesma humanidade: à expressão da individualidade de uma criança – seu desenho em uma pequena folha de papel – soma-se a de milhares de outras crianças, simbolizando a contribuição do indivíduo para a constituição da coletividade.
Essa proposta, executada com simplicidade e criatividade genuinamente brasileiras, traz consigo uma grande lista de provocações, como a reflexão sobre a paz e a coexistência pacífica; a descoberta de outras culturas; a arte como meio de expressão e comunicação interpessoal e intercultural; questões ligadas à infância e à juventude; uma reflexão sincera sobre os direitos humanos; e o desenvolvimento de um olhar voltado à sustentabilidade socioambiental do planeta.
A Árvore é uma síntese do processo criativo de Otávio Roth, pelos signos que carrega, pelo processo de construção colaborativa que provoca e pelo resultado estético que alcança. O artista já havia explorado a imagem da árvore e suas folhas em pelo menos outras três obras, encomendadas pelas Nações Unidas por ocasião do lançamento de selos comemorativos da World Federation of UN Associations (“Conservation and Protection”, Nova York, 1982; e “Medicinal Plants”, Nova York, 1990) e a também instalação de arte participativa Corações Abertos (1991), essa última voltada para o corpo de funcionários de uma fábrica em Cruzeiro, SP.
Da mesma forma, Roth já havia experimentado de maneira pioneira outros tantos processos de construção de instalações participativas, convidando crianças e adultos para conhecer e refletir sobre o conteúdo da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Documento da Paz, Jerusalém, 1989 – instalação participativa feita com crianças israelenses e palestinas), da Constituição Federal (Mural Cívico, São Paulo, 1988 – projeto de construção colaborativa do preâmbulo e artigo V da Carta Magna envolvendo 5 mil pessoas) e sobre a coexistência pacífica de maneira ampla (Face a Face, Cruzeiro, 1991, e Versos de Fim de Ano, São Paulo, 1993).
Essa constante preocupação em propiciar um espaço de trocas, convidando seus colaboradores a compartilhar a autoria de seus projetos, explicita o indiscutível respeito do artista pelos conteúdos com que se propunha a trabalhar: a valorização do espírito coletivo, o pioneiro trabalho em rede, o compromisso com valores amplos e preocupações comuns a todos.
A Árvore no Sesc
A obra ganha fôlego com a montagem da exposição Para Respirar Liberdade – Setenta Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Sesc Bom Retiro, SP, de 1/11/2018 a 27/1/2019), através de sua inusitada montagem tridimensional. Pela primeira vez, em seus quase 30 anos de existência, A Árvore foi reconstruída no formato de um grande móbile especialmente desenhado para o átrio interno do edifício de quatro andares do Bom Retiro, em projeto assinado por Pedro Mendes da Rocha. Para a confecção desses novos galhos, 70 mil crianças foram mobilizadas ao longo de dois meses de oficinas, realizadas através da Rede Sesc (Projeto Curumim e Oficinas Livres nas unidades Sesc Belenzinho, Bom Retiro, Paulista e Pompeia), escolas particulares e por meio de uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação, que, através da articulação com coordenadores dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), mobilizou milhares de crianças e adolescentes da rede pública de ensino.
Nomes, idades e país de origem de todos os jovens participantes do projeto foram registrados em fichas, que podem ser consultadas pelos visitantes durante o período expositivo.